Além do ginásio: o futuro do esporte escolar está na diversidade de ambientes
As melhores escolas do mundo estão deixando o concreto para trás. Estudos mostram que o corpo aprende melhor quando o chão muda — areia, grama, água, tata...
As melhores escolas do mundo estão deixando o concreto para trás. Estudos mostram que o corpo aprende melhor quando o chão muda — areia, grama, água, tatame. Mas no Sul Fluminense, a maioria das crianças ainda cresce confinada em um único tipo de espaço. Além do ginásio: o futuro do esporte escolar está na diversidade de ambientes Foto/Divulgação: Maple Bear Penedo As crianças do Sul Fluminense jogam bola num chão de concreto quente. Correm, escorregam, caem e saem com o mesmo estímulo todos os dias. Enquanto isso, escolas pelo mundo formam alunos em campi vivos, onde o corpo aprende em múltiplas superfícies: nadando, saltando na grama, pulando na areia, respirando no tatame, dançando descalço. A diferença não é estética. É neurobiológica. Estudos internacionais mostram que ambientes variados ampliam o repertório motor, estimulam o cérebro e elevam a motivação dos alunos. O ginásio de concreto, símbolo da educação física industrializada, está se tornando o novo quadro negro: obsoleto. Ambientes diferentes, cérebros mais ativos Pesquisas recentes revelam que o ambiente físico é determinante no desenvolvimento motor e cognitivo das crianças. O estudo Cognição e ambiente são preditores do desenvolvimento motor e cognitivo (Pereira, 2016, SciELO) concluiu que o espaço físico e sua organização são mais relevantes que fatores biológicos para o progresso motor. “Espaços amplos e variados estimulam vivências motoras diversificadas que favorecem o desenvolvimento integral da criança.” Outro trabalho clássico de Gallahue, Ozmun e Goodway (2019) confirma: “A adaptação do corpo a diferentes superfícies e contextos amplia a aprendizagem motora e melhora a capacidade de adaptação.” Na prática, isso significa que uma criança que alterna entre areia, grama, água e ginásio desenvolve coordenação, equilíbrio e controle motor superiores àquela que pratica sempre no mesmo tipo de piso. Além do ginásio: o futuro do esporte escolar está na diversidade de ambientes Foto/Divulgação: Maple Bear Penedo O cérebro aprende com o corpo O esporte não é só movimento é aprendizado em ação. A Cleveland Clinic e o Project Play (U.S. News, 2025) apontam que o exercício físico aumenta o fluxo sanguíneo no cérebro, otimizando concentração, memória e capacidade de aprendizado. Crianças ativas têm melhor foco e desempenho em sala de aula, com maior disciplina e organização. Mas há um diferencial ainda maior: a motivação. Os esportes complementares no contexto escolar (Brasil Escola, 2022) explica que a prática em superfícies variadas aumenta o interesse dos alunos e reduz o sedentarismo. “A diversidade de estímulos motiva o aluno e amplia o engajamento. Cada ambiente oferece um desafio novo — e isso mantém o corpo e a mente em movimento.” Ginásio de concreto: um modelo que limita Pesquisas recentes indicam que espaços esportivos restritos e de piso rígido limitam o desenvolvimento motor e reduzem o interesse das crianças pela prática esportiva. A ausência de estímulos variados empobrece o aprendizado motor e pode até aumentar o risco de lesões, segundo análises sobre ambientes de treino publicadas em 2022. A monotonia espacial gera também desmotivação. Quando o ambiente não muda, o corpo aprende menos e o cérebro, entediado, desliga. Além do ginásio: o futuro do esporte escolar está na diversidade de ambientes Foto/Divulgação: Maple Bear Penedo Escolas de referência estão mudando o conceito de esporte As melhores práticas internacionais mostram que o esporte escolar é mais eficaz quando integra modalidades diversas em um mesmo campus — natação, balé, yoga, judô, xadrez, futebol, vôlei, beach tênis, futevôlei, basquete — cada uma em um ambiente específico e sensorialmente distinto. De acordo com a UNESCO (Carta da Educação Física, 2025), “O esporte escolar é parte essencial da educação de qualidade, desenvolvendo corpo, mente e cidadania.” A UFPA (2020) reforça: “O espaço físico escolar é oportunidade fundamental para o desenvolvimento motor, oferecendo vivências variadas que estimulam o comportamento motor e cognitivo.” E a análise da UFSC mostra que programas esportivos diversificados promovem inclusão, engajamento e melhoria no desempenho escolar, ao mesmo tempo em que ampliam as oportunidades de descoberta e pertencimento social. Motivação nasce da experiência, não da estrutura rígida A ciência do comportamento humano indica que o engajamento vem da novidade e da autonomia princípios aplicáveis também ao esporte. Ambientes que mudam, desafiam e surpreendem despertam o mesmo sistema de recompensa cerebral ativado pela curiosidade e pela criatividade. Por isso, campi esportivos integrados à escola, com atividades em diferentes espaços, geram mais adesão, entusiasmo e constância. Relatórios de 2024 mostram que escolas que oferecem múltiplos esportes no próprio campus reduzem a evasão, aumenta frequência e melhoram indicadores de bem-estar dos alunos. Além do ginásio: o futuro do esporte escolar está na diversidade de ambientes Foto/Divulgação: Maple Bear Penedo O esporte como ecossistema de aprendizagem O corpo é o primeiro instrumento de aprendizado — e o ambiente, seu laboratório. Um campus esportivo que inclui areia, gramado, ginásio e água cria uma ecologia de estímulos onde cada passo, cada salto e cada respiração ensinam algo diferente: equilíbrio, força, foco, cooperação, autoconfiança. A UNESCO chama essa visão de Educação Física Integral: quando a escola deixa de ver o esporte como recreio e passa a enxergá-lo como um eixo formador da inteligência, da saúde e da cidadania. Conclusão — O corpo também pensa O futuro da educação esportiva não está em mais concreto, e sim em mais opções. Ginásios padronizados pertencem à era da uniformidade. No fim das contas, o chão em que a criança pisa também forma o mundo em que ela vai andar.